sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Vergonha... (haicai)

- Perdão, por favor,
Por minha indiscrição;
Disse Timidez.

Amar (haicai)

Amor é um sonho
Sem razão ou solução...
Isolado, mata!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Longe de ti?

Suplico, sim, tua presença ingrata,
Pois meus desejos já não te alcançam,
Ecoando versos dispersos pela indiferença...

Do vazio que sinto, a infeliz crença
De que tua falta é um destino que mata
Minha alma sem par, que, no peito, é chaga...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Feriado

Abandono-me por um instante...

Uma preguiçosa paz ignora minha rotina
E invade meu ser, no silêncio que habita
O sentir vazio de lembranças esquecidas
Na presença de idéias futilmente perdidas.

...Seria este o descanso de uma alma inquietante?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um último domingo de paz

O dia surgia lentamente, meio que sem vontade. Na janela, a admirar, lá estava um idoso aposentado que, às cinco horas da manhã, havia levantado aflitamente do seu leito confortável, com a impressão de uma calma melancolicamente monótona que estaria por vir.

Lembrava-se do tempo em que conseguia ver o horizonte azul do mar da varanda de sua casa, que o preenchera, naquele instante, de uma alegria que não voltaria jamais, pois, na sua frente, havia apenas um tom de cinza morto e inerte dos prédios blindados, com o qual se deparou ao abrir os olhos, suspirando como se o encanto de suas lembranças fosse quebrado.

Queria se livrar dos prédios, barreiras concretas que sufocavam sua memória. Resolveu, então, caminhar pelo calçadão da praia mais próxima, que ficava a menos de dois quarteirões de sua casa.

Chegando à praia, despejou uma lágrima, emocionado com o dia ensolarado que se abrira diante dos seus olhos, agora ainda mais próximos do mar, que refletia uma luz como se iluminasse um caminho em sua direção.

Passou o dia na praia. Estava na companhia do Sol e sentia-se levado pelo caminho infinito de luz às ondas que, vez ou outra, batiam na areia como o palpitar do seu coração.

Em silêncio, despedia-se do Sol, que parecia não querer ir embora, pois lentamente descia do seu posto magistral no céu.

Já era noite quando o idoso voltava para casa, com enorme satisfação, o que não sentira desde muito tempo, pois desde muito tempo fora mal humorado e raramente saía de casa, com seus sentimentos trancados no peito e raramente compartilhados.

Chegando em casa, tomou um banho, imaginando-se na imensidão do mar. Dormiu num sono profundo, tão profundo que rendeu-lhe sonhos.

Dormiu em paz, enfim. Não acordou, mas voltaria ao mar como sempre desejou. Sua vontade foi então respeitada, mesmo em sua ausência.