sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Indiferença

Sonhos são levados pela indiferença,
Fazendo da apatia sua própria crença,
Na qual o poder é um “deus” mundano,
Inalcançável ser dentro do que é humano.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A musa e o pintor

O pintor admirava a musa que pintara, num sentimento contido, que se aflorava, mesmo calado, como se as pinceladas suaves que torneavam as curvas inspiradas de pecado fossem suas mãos tocando a carne despida à sua frente.

Em conflito, parou por um instante, dando a entender que estava apenas pensando tecnicamente em sua obra. Porém, seus pensamentos o condenavam, num paraíso distante e que tão próximo seria caso parasse de transpor a beleza da donzela à sua obra e se atirasse em seus braços, transportando ao seu corpo.

Incessantemente aflito, o artista domava as pinceladas com cuidado para que a beleza desconcertante de sua musa se transpusesse fielmente ao quadro. Lutava com sua imaginação, entre os desejos carnais e a pureza de seus traços suaves.

Sem dúvida, desejava que os traços que reproduzira estivessem entregues a si mesmo, apesar das barreiras que a própria introspecção lhe impôs.

Entre os dois, o ofício que os separava. A tela, conduzida como na realidade pelo pintor, preenchia o vazio dos seus desejos com as tintas, em que os tons coloridos surgiam como se fossem algo para consolá-lo, visto que o que sentia talvez fosse um amor utópico, que ficaria marcado na sutileza dos traços eternos, porém distantes, intocáveis.

Despediram-se!... Após elogios calorosos à obra de arte em que foi retratada, a moça caminhava para sua casa admirando a fidelidade dos traços, num sentimento encarado pela mesma com estranhamento.

Passaram-se dias e a moça se admirava na pintura. Espantou-se pela fidelidade com que o pintor conseguira reproduzir seus detalhes.

Porém, demorou a perceber o que lhe chamaria maior atenção. No lugar da assinatura discreta da obra, estava escrito: “Amor”.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Além da noite

É o medo que torna a noite refém
Da inquietude que se adentra além.

Submissamente calada,
Testemunha, iluminada,
O quebrar de sua própria paz,
Num silêncio que não satisfaz...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O néctar dos teus lábios

Tua boca pede, ao se entregar,
Meu desejo, que pousa em ti,
Na nossa carne, a aflorar.

No doce sabor dos teus beijos,
A fonte de um amor intenso,
O mais celeste dos desejos!

A cama, um paraíso imenso
De dois corpos que se tornam um,
No calor do especial momento
Em que o prazer se faz comum!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Esperar-te

No vazio das palavras que não ouço,
Espero que tua voz encontre a minha...

...Porém, desespero-me calado,
Pois não ouvirás minha alma
Nem a carne que grita teu nome,
Ecoando versos de amor,
Explicitando minha dor!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Noturno Sentir ou A voz do coração

A noite ouve a aflição inquieta
Que em silêncio sente o poeta!

Nos calados dizeres,
Lágrimas e prazeres!

Nos subjetivos versos,
Sentimentos diversos
Na insônia a aflorar!

É a voz da alma, livre, a palpitar!

sábado, 2 de outubro de 2010

O bêbado...

Numa esquina próxima, buscou consolo em um bar. Afogava as mágoas que caíam no copo, com a miséria e as lágrimas a transbordar.

Seu corpo, errante, fora então abraçado pelas ruas vazias na madrugada.

Inconsciente, era apenas dor ambulante. Uma dor que enganava a realidade; a dor de ser e também a de sentir todas as frustrações que o fato de ser lhe causava.

Zé acordou com o barulho dos carros. Sua ressaca foi interrompida pela tempestade urbana que rodeava a rua. A realidade voltava a surgir na medida em que as pessoas apareciam como fantasmas que o relembravam todo o caos que havia esquecido.

Levantou, meio sem graça e sem equilíbrio, e lembrou que estava atrasado para o trabalho. Dormira na rua, como um vira lata. Precisava voltar para casa, pois estava “um lixo”, mas já não tinha tempo suficiente.

Já nem lembrava o motivo de estar ali, largado na rua e já sem sua carteira, mas sabia, quase que mecanicamente, que teria de se apresentar no trabalho. Disse a si mesmo um desaforo e foi correndo para a empresa.

Após dar uma desculpa e levar uma bronca pesada de seu chefe, sentou-se na cadeira e viu aqueles relatórios de tarefas acumulados com indiferença. Brigava, agora, com o sono de uma noite mal dormida e a rotina de seu dia a dia.

Depois das horas extras que havia trabalhado para compensar seu atraso, saiu da empresa, já bem tarde.

Chegou, enfim, em casa, bem cansado, ainda que sem o peso das responsabilidades, apesar de estar sobrecarregado. Viu, logo em seguida, uma velha garrafa de uísque sobre a mesa. Esquecera que a havia colocado ali e o motivo da presença do objeto já não aparecia com tanta importância na cabeça de Zé, o que não o impediu de aventurar-se dose por dose no conteúdo atraente da garrafa. E assim foi levado, gole por gole, ao prazer instantâneo e letal.

Saltou pela janela e, assim, deitou-se novamente entre as ruas vazias... Será que o mundo o ouviria agora?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sinal vermelho

Sigo, por esta estrada, incessante,
Pois Amor é um destino distante:
Já não te vejo ao meu alcance...

É apenas o vento que toca esta face!
Em desespero, o frio à carne invade...
Em tua ausência, o inútil escape
De fugir dos pensamentos em que tu habitas...