terça-feira, 17 de agosto de 2010

A alma de um palhaço triste

Nunca soube seu nome. Era um palhaço que transbordava alegria por onde passava, deixando sorrisos e calando choros nas faces inocentemente frágeis das crianças, mantendo-as entretidas, como uma forma de encantamento. Sentia-se, aparentemente, recompensado pela humilde vida de plantar sorrisos por todos os cantos.

Espalhava felicidade! O que daria errado para um ser tão satisfeito com tal função? Passei, então, a vê-lo ocasionalmente chamando a atenção das pessoas pela praça, de forma performática e ao mesmo tempo sincera. Parecia querer contar algo. “Que tipo de segredos teria um palhaço?”, cheguei a pensar, como um mistério banal. Despedi-me do ser saltitante com um simples aperto de mão e um sorriso, sem alimentar minhas dúvidas.

Dias se passaram e eu o via na mesma praça, sempre entretendo as crianças que por ali circulavam. Para minha surpresa, ele me reconheceu e veio até mim, até que me cumprimentou. Como sempre fui um homem fechado e tímido, nunca esperaria chamar a atenção de um palhaço, um ser de alegria tão exposta e tamanha extroversão.

Com o tempo, passei a elogiar e a bater palmas para as performances do palhaço, admirando sua alegria como uma forma de arte. Porém, a dúvida pelo motivo de eu ter sido escolhido como seu amigo e espectador permanecia como algo surpreendente.

Depois de muito tempo, já sob chuva e frio, passei pela praça ao caminhar despretensiosamente para o trabalho e lá estava o palhaço. Desta vez, parecia esperar as crianças que não compareceriam. A máscara do palhaço estava borrada e comecei a reparar nos defeitos e no lado humano daquele artista, que manteve um sorriso, ainda mais humano, calado, porém com uma lágrima sincera e real, algo que eu nunca tinha reparado naquele ser. Então, ele disse, com um sorriso sincero e discreto: “Obrigado por compreender minha dor. Finalmente, alguém entendeu que sou humano!"

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